quinta-feira, 30 de outubro de 2008

PSICOLOGIA ODONTOLÓGICA II

UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP
CRONOGRAMA DAS ATIVIDADES PROGRAMADAS

INSTITUTO: Ciências da Saúde
CURSO: Odontologia
SÉRIE: 3ª4º Semestre/2008
TURNO: Integral
DISCIPLINA: Ciências Sociais – Psicologia Aplicada à Odontologia II
CARGA HORÁRIA SEMANAL: 02 horas/aula quinzenal


I – OBJETIVO GERAL:
levar o aluno do curso de odontologia a conhecer as contribuições possíveis da psicologia às várias especialidades odontológicas, possibilitando uma integração entre teoria e prática e colaborando para o alcance dos objetivos de saúde bucal e atuação em contextos multi, inter e transdisciplinar.


II – OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
1 – Possibilitar ao aluno o domínio das relação entre teoria e prática psicológica no campo de sua atuação como CD nas várias especialidades odontológicas.

2 – Aprender a avaliar as possibilidades de atuação integrada psicologia/odontologia em situações específicas da prática odontológica.

III – ESTRATÉGIA DE TRABALHO:
- aulas expositivas;
- exercícios em sala-de-aula para discussão de textos;
- discussão de casos;
- recursos áudio-visuais:
a) slides,
b) transparências,
c) datashow,
d) projeção de filmes.

IV – AVALIAÇÃO
UNIDADES I e II –Prova valendo 10 pontos – questões de múltipla escolha e dissertativas



VI – BIBLIOGRAFIA:
· básica

1 - BOCK, Ana Maria Bahia (et alli). Psicologias. Uma Introdução ao Estudo de Psicologia. 13ª ed. São Paulo: Saraiva, 2000.
2 - D’ANDRÉIA, Flávio Fortes. Desenvolvimento da Personalidade. 9ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989.
3 - SEGER, Liliana (et alli). Psicologia & Odontologia. 4ª ed. São Paulo: Santos Editora, 2002.
4 - WOLF, S. Psicologia no Consultório Odontológico. Marília: UNIMAR; São Paulo: Arte & Ciência, 2000.


· complementar

1 – ALVES, E.G.R. O cirurgião-dentista e outros profissionais de saúde portadores de HIV/AIDS: considerações bioéticas e psicológicas. São Paulo, 2001. 254 p. Dissertação (Mestrado em Deontologia e Odontologia Legal) – Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo.
2 – AMARAL, L.A. Conhecendo a deficiência: em companhia de Hércules. São Paulo: Robe, 1995.
3 – AMARAL, L.A. Pensar a diferença/deficiência. Brasília: Corde, 1994.
4 – BROMBERG, M.H.P.F. (et alli). Vida e Morte: laços de existência. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1996.
5 – GOFFMAN, E. Estigma: notas sobre manipulação da identidade deteriorada. 4ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1988.
6 – MARCHIONI, S. A. E. Galeria de espelhos: os vínculos no atendimento a pacientes especiais em uma clínica-escola de odontologia. São Paulo, 1998. Dissertação (Mestrado em Educação Especial) – Universidade Mackenzie.
7 – PERISSINOTTI, Dirce M. N. Compreendendo o Processo Doloroso: a dor como traição. In: Revista Simbidor. Vol II, nº 2, 2001. São Paulo. (download no site www.simbidor.br).





















1º BLOCO


PSICOLOGIA APLICADA À ODONTOLOGIA - II
PRIMEIRA AULA – Psicologia Aplicada à Odontologia – conceito e abrangência

I - CONCEITO: Atitude geral que postula uma visão integrada do ser humano na sua unidade corpo-mente na aplicação dos conhecimentos da psicologia para uma melhor e mais completa saúde bucal.

II – JUSTIFICATIVA:
1 – Melhoria da relação odontólogo-paciente (compreensão das relações psicossomáticas e somatopsíquicas, além dos aspectos transferenciais);
2 – compreensão integral dos processos saúde/doença;
3 – compreensão dos fatores psicológicos que estão modificando a doença (forma e extensão).
4 – diagnóstico global.

III – APLICAÇÃO:
- Todas as especialidades odontológicas;
- Ao próprio CD;


IV – APLICADORES:
- CDs.
- Psicólogos especialistas (casos encaminhados pelo CD).


V – TERAPIA CENTRADA NA DISFUNÇÃO (TCD)

Terapia breve limitada, cuja prioridade é tratar o componente emocional que está agravando a doença odontológica



















PSICOLOGIA APLICADA À ODONTOLOGIA - II
SEGUNDA AULA – ESTRESSE E PATOLOGIA BUCAL




CONCEITOS: estresse e distresse

Estresse: “desorganização geral do organismo em resposta a estímulos ambientais chamados estressores -> Síndrome Geral de Adaptação”;
Sintomas do estresse:
-físicos: aumento da sudorese, taquicardia, tacpnéia, aumento da sensibilidade digestiva, bruxismo, hiperatividade, náuseas, mãos frias, cianose dos lábios e xerostomia.
-psicológicos: ansiedade, pânico, angústia, insônia, alienação, problemas de relacionamento, crises de identidade, preocupações excessivas, tensão constante, aumento do sentimento de tédio, nervosismo, ira, depressão, hipersensibilidade afetiva e somatizações.
Distresse: é a cronificação do estresse (fase da exaustão), produzindo os sintomas mais graves como depressão e somatizações.
Eustresse: é o “bom estresse”, i. é, é a preparação do organismo em nível adequado para aumentar a eficiência da resposta.

V – FASES DO ESTRESSE:
1 – Alarme: o organismo se prepara para resolver uma situação ameaçadora (prontidão para luta ou fuga), gerando os sintomas fisiológicos do estresse (liberação de adrenalina, taquicardia, tacpnéia, aumento da oxigenação do sangue, tensionamento dos músculos –> síndrome de Cannon).

2 – Resistência: busca retornar ao equilíbrio, após a remoção do estressor (retorno à homeostase);

3 – Exaustão: quando sucessivamente fracassa a resistência (retorno à homeostase), ocorre a cronificação do estresse (o estressor não é removido), gerando os sintomas mais graves, como somatizações e depressões.


VI – FATORES DO ESTRESSE:

A intensidade dos estressores (ambiente) combinada com as capacidades individuais (resistência pessoal) são explicativas da magnitude do estresse.








ESCALA DE FONTES DO ESTRESSE:


Evento
pontos
01
Morte do cônjuge
100
02
Divórcio
73
03
Separação do casal
65
04
Prisão
63
05
Morte de alguém da família
63
06
Acidente ou doenças
53
07
Casamento
50
08
Perda do emprego
47
09
Reconciliação com o cônjuge
45
10
Aposentadoria
45
11
Doença de alguém da família
43
12
Gravidez
40
13
Dificuldades sexuais
39
14
Nascimento de criança na família
39
15
Mudança importante no trabalho
39
16
Mudança na condição financeira
38
17
Morte de amigo íntimo
37
18
Mudança na linha de trabalho
36
19
Mudança na freqüência de brigas conjugais
35
20
Compra de casa de alto valor
31
21
Término de pagamento de empréstimo
30
22
Mudança de responsabilidade no trab
29
23
Saída do filho de casa
29
24
Dificuldade com a política
29
25
Reconhecimento de feito profissional
28
26
Cônjuge começou ou parou de trabalhar
26
27
Começo ou abandono dos estudos
26
28
Acréscimo ou diminuição de pessoas na casa
25
29
Mudança de importante hábito pessoal
24
30
Dificuldade com o chefe
23
31
Mudança de horário de trabalho
20
32
Mudança de residência
20
33
Mudança de escola
20
34
Mudança de recreação
19
35
Mudança de religião
19
36
Mudança de atividades sociais
18
37
Compra a crédito de valor médio
17
38
Mudança nos hábitos de dormir
16
39
Mudança na freqüência de reuniões familiares
13
40
Mudança de hábitos alimentares
15
41
Férias
13
42
Natal
12
43
Multa por pequenas infrações
11
(Holmes e Rahe, 1967)



PSICOLOGIA APLICADA À ODONTOLOGIA - II
TERCEIRA AULA – Técnicas de enfrentar o estresse

TÉCNICAS DE ENFRENTAR O ESTRESSE

1. CONFIDÊNCIA
Converse sobre seus problemas com um confidente. Isto geralmente ajuda a aliviar a tensão e a esclarecer o que poderia estar causando o estresse.



2. DISTRAÇÃO
Se você se encontrar numa situação problemática pare um pouco de pensar no problema para readquirir o controle. Dê um passeio, conte até dez, assista a um filme, faça uma viagem curta ou qualquer coisa que você julgue apropriado, mas esteja preparado para voltar e lidar com o problema que o aflige.



3. DESCARGA DIRIGIDA
Se você perceber que usa a raiva como uma maneira freqüente de responder às situações desagradáveis, tente conter o impulso descarregando seu ódio através de alguma atividade física como: Cooper, jardinagem, fazer limpeza na casa, jogar tênis ou dar uma longa caminhada. Extravasar a energia retida em você talvez lhe dê tempo para se preparar melhor para resolver o problema.



4. DESCENTRAÇÃO
Ocasionalmente ceda. Se você estiver freqüentemente entrando em discussões e estiver se sentindo obstinado, tente admitir a possibilidade de você poder estar errado, e se isso não for de todo possível, tente mais uma vez ouvir as outras pessoas.




5. SOLIDARIEDADE
Faça algo pelos outros. Se estiver percebendo que sua atenção está principalmente focada em seus problemas tente desviá-la para outras pessoas ou coisa: faça caridade, ouça os problemas de um companheiro de trabalho (talvez ele lhe retribua um dia) ou ajude alguém a transplantar flores.


6. PRIORIZAÇÃO
Faça uma coisa de cada vez. Quando experimentarmos muita tensão, até as tarefas simples parecem insuportáveis. Sente-se e escreva as coisas que você tem que fazer, então faça uma lista de prioridades realizando uma tarefa de cada vez. À medida que for superando cada tarefa você provavelmente achará que as coisas não estão tão terríveis assim.



7. DESPROJEÇÃO
Evite a imagem do super-herói. Muitas pessoas esperam muito delas mesmas e se preocupam constantemente porque pensam que não estão conseguindo o quanto deve conseguir. Apesar da perfeição ser o ideal, você está se convidando a falhar desde que é impossível conviver com essa expectativa irracional.


8. ACEITAÇÃO DO OUTRO
Controle o seu criticismo. Geralmente por causa das nossas necessidades e imperfeições esperamos muito dos outros e daí nos sentirmos frustrados ou despontados quando não correspondem às nossas expectativas. Lembrar que cada pessoa tem seus direitos de se desenvolver individualmente (inclusive esposos), geralmente ajuda. Se você procurar os pontos positivos dos outros e ajudá-los a desenvolver essas qualidades, poderá ganhar também uma melhor apreciação de si mesmo.

9. RECREAÇÃO
Marque uma rotina de recreação. Muitas pessoas levam a vida muito a sério não se permitindo tempo para exercícios regulares ou para passatempo absorventes e agradáveis.



10. AFIRMAÇÃO
Se se sentir deixado de lado das atividades de amigos faça um esforço assertivo e tente participar. Muitas vezes as pessoas se imaginam rejeitadas e negligenciadas porque têm se auto-rejeitado devido à autocrítica.


11. INTRACOMUNICAÇÃO
Melhore sua conversa consigo mesmo. Cada vez que pensamos que não vamos conseguir fazer algo, estamos criando uma expectativa negativa que torna ainda mais difícil vencer. A ansiedade é, na maioria das vezes, eliminada quando substituímos o medo do fracasso pela esperança do sucesso.



12. MODERAÇÃO
Não fume, não tome café ou beba em excesso. Drogas ilícitas, nunca!



13. NÃO À MEDICAÇÃO AUTO-ORIENTADA
Não se auto-medique. Só tome remédios receitados por um médico. Os calmantes/tranqüilizantes podem fezê-lo sentir-se curado, quando, na verdade, ainda não está; é preciso aprender a lidar com as causas do seu estresse e não simplesmente fugir dele.

Bibliografia:
LIPP, Marilda Novaes. Como Enfrentar o Stress. São Paulo: Ícone, 1998.
















PSICOLOGIA APLICADA À ODONTOLOGIA - II
QUARTA AULA – Psicologia Aplicada à Ortodontia

I – OBJETIVO: retirada dos hábitos orais deletérios causadores da maloclusão.
II – DEFINIÇÃO DE HÁBITO ORAL DELETÉRIO:
São hábitos orais automáticos e repetitivos de sucão, mascação e de roer, cuja permanência ofereça complicações ao desenvolvimento ortodôntico e/ou à motricidade oral.
III – DESCRIÇÃO DOS HÁBITOS:
1 – Sucção do polegar e outros dedos, chupeta e mamadeira;
2 – Sucção de lábio, língua e bochechas;
3 – Morder objetos;
4 – Fixidez no apoio da face na mão ou antebraço (para dormir ou ler);
5 – Onicofagia;
IV – ANÁLISE DOS HÁBITOS: envolve as condições de ocorrência do hábito
1 – Desenvolvimento do hábito (história do hábito);
2 – Definição do Hábito (forma, freqüência, intensidade e duração);
3 – Antecedentes ou desencadeantes (situações, locais, horários, associações psico-sociais);
4 – Especificação dos conseqüentes (comunicadores, comunicação, punições, reações, conseqüências físicas);
5 – Motivação (de quem e de quê a criança gosta, não gosta e lazer);
6 – Autocontrole (controle dos impulsos, capacidade de esperar e obedecer);
7 – Escolha dos modelos (a quem a criança gosta de imitar, parecer).

V – FUNÇÃO FILOGENÉTICA DA SUCÇÃO:
Inicialmente a sucção é um reflexo;
Posteriormente, hábito que tende a se prolongar;
Importância da sucção independente da amamentação (efeito sedativo da sucção, desenvolvimento emocional?);
Dificuldade de se evitar algum tipo de sucção artificial no (apego às vária formas de sucção);
Pode a mamadeira ser suprimida no desmame precoce?
O Corpus Adiposum Bucae como marco da cessação da necessidade de sucção;
Hierarquia dos hábitos durante a “fase succional”:
- aleitamento materno;
- mamadeira;
- chupeta;
- objetos;
- dedos, onicofagia;
- língua, lábios e bochechas

VI – MÉTODOS MECÂNICOS DE RETIRAR OS HÁBITOS DE SUCÇÃO
Grades e placas de contenção;
Cuidados prévios à utilização de meios mecânicos de retirada da sucção.





VI – CAUSAS DO PROLONGAMENTO DO HÁBITO

1 – Repetição Mecânica:
O hábito é filogeneticamente programado para produzir prazer. Para que seja interrompido, deve haver uma restrição do meio. Se essa restrição não ocorre com eficácia, o hábito tende a se prolongar indefinidamente. Não há semântica motivadora e por isso pode ser retirado por meios mecânicos sem maiores problemas.

2 – Carência Afetiva:
A relação da criança com os pais, especialmente com a mãe (função de mãe) exige qualidade e quantidade. Se ocorrem falhas importantes nessa relação, resulta uma afetividade não satisfeita (ou inibida) que se converte em carência. Nessa situação, a criança lança mão de vários expedientes para reduzir a angústia. O prolongamento da sucção pode ser um deles. Como há um sentido para a sucção, sua retirada deverá ser precedida por um rearranjo familiar. É possível que sua retirada sem esse cuidado prévio venha produzir sintomas em outras áreas da personalidade da criança.

3 – Retirada precoce de um hábito gerando a fixação em outro hábito:
Se há um “período succional”, a retirada precipitada da sucção total pode não ser suportada pela criança, aumentando seu nível de ansiedade. A criança, então, poderá se fixar em um hábito que está mais sob seu controle (sucção auto-erótica) e menos sob controle dos pais, como forma de lidar com a ansiedade. Embora não haja semântica, a fixação da criança nessa forma de descarga de ansiedade exige, para sua retirada, uma detalhada avaliação das capacidades da criança de substituir ou abandonar o hábito. A criança deverá ser preparada e os pais treinados previamente.


VII – CONCLUSÃO:
O estudo dos hábitos orais está no centro de uma discussão que torna evidente a necessidade de um enfoque multidisciplinar para seu avanço, em razão de suas inúmeras implicações estruturais, funcionais e emocionais. Já se tem, contudo, certo acordo quanto aos prejuízos que podem causar tanto sua extinção precoce quanto o seu prolongamento. Já se reconhece, também, uma hierarquia entre os vários hábitos. A grande dificuldade a ser superada é a ideologização do debate e da pesquisa.













PSICOLOGIA APLICADA À ODONTOLOGIA - II
QUINTA AULA – Psicologia Aplicada à Odontopediatria – Resistência Medrosa

I – OBJETIVO: Preparar emocional e comportamentalmente a criança para aceitação dos hábitos de higiene bucal e para a visita regular e colaborativa ao odontopediatra.

II – PROGRAMA DE PREVENÇÃO DA ANSIEDADE ODONTOLÓGICA:

· Integração multidisciplinar ( odontopediatra e psicólogo );
· 1 – Contato prévio com os pais (pessoalmente ou por carta) para instrução sobre como lidar com a criança e com a própria ansieadade antes e durante a primeira consulta. Conteúdo: projeção do medo; evitar comentários indutores de medo; controlar a própria ansiedade; frases modelares...
· 2 – Sala lúdica de expressão da ansiedade e familiarização com a SÃO ( montagem de quadro com figuras situacionais, materiais do consultório, inclusive dramatização e inversão de papéis).
· 3 – Dessensibilização ao consultório (fotos ou “in loco”).
· 4 – Criança até 3 anos deve ser atendida na presença da mãe. Depois dessa idade, a mãe devc aguardar fora do consultório (ou entrar junto para habituação e depois sair).
· 5 – Material de suporte e orientação aos pais na sala de espera.

III – MEDOS:
Ao deparar com a resistência comportamental e concluir se tratar de resistência medrosa, o odontopediatra deverá saber reconhecer o medo real do medo imaginário. O medo real resulta de uma experiência traumática com profissionais de saúde e situações afins enquanto que o medo imaginário decorre de fantasias e aprendizagem vicária.

1 - Resistência medrosa
Etiologia:
A resistência medrosa tem causas históricas, experienciais e emocionais. No curso do desenvolvimento histórico da odontologia, quando ainda eram incipientes os meios de redução da dor, o paciente comparecia ao dentista com a saúde bucal já muito comprometida, tornando o tratamento um verdadeiro suplício. Essa situação, que no Brasil, a partir da 2ª metade do séc. XX, começou a ser mitigada (sobretudo pela entrada em cena da odontologia preventiva) evoluiu favoravelmente até os dias atuais em que os meios de redução da dor são extremamente poderosos e eficazes ao lado de uma saúde bucal coletiva também em muito melhor condição. Apesar do avanço, permaneceu o estigma do dentista como sádico e agente produtor de dor. Não é difícil a uma pessoa mais sugestionável ser invadida pelo medo ao deitar-se na cadeira do dentista. Esta situação é mais encontrada em pacientes adultos.
Experiências negativas no consultório odontológico (Moraes, 1999), em que houve ocorrência de dor intensa ou prolongada, de uma situação alarmante ou mesmo de uma relação interpessoal negativa podem produzir uma forte associação entre a situação de atendimento odontológico e dor e sofrimento. Essa associação condiciona os futuros atendimentos, reproduzindo a experiência do medo, em um círculo vicioso. Atinge tanto adultos quanto crianças.
Por fim, como terceira causa da resistência encontram-se os aspectos emocionais. A região da boca é a primitiva fonte do conhecimento do prazer e da angústia. A manipulação da boca pode acarretar fantasias de castração e a conseqüente invasão do medo e ansiedade.
Manejo:
- “Contar, mostrar, fazer”. Acrescentada do reforçamento positivo dos comportamentos que seguem o treino instrucional imitativo;
- “Condicionamento aversivo ou punição”. Forma de conter e disciplinar a criança;- (COM RESTRIÇÕES)
- “Mão-na-boca” (HOME – Hand over mouth exercise), técnica de condicionamento aversivo utilizada em situações de extremo descontrole da criança. (COM RESTRIÇÕES)
- “Distração”. Desviar a atenção da criança para estímulos agradáveis (balões, bichinhos, desenhos, tv, brinquedos, aquários, móbiles...)
- “Abordagem lúdica”. Envolver a criança em perfórmances de brincadeiras até que o próprio atendimento seja percebido como complemento divertido da brincadeira.
- “Técnicas hipnóticas”.


PSICOLOGIA APLICADA À ODONTOLOGIA - I
SEXTA AULA – Resistência comportamental não-medrosa

É unânime entre os especialistas a importância do comportamento colaborativo do paciente para o sucesso do tratamento. Quando o paciente é criança, seu comportamento colaborador assume importância crucial. Afinal, atender uma criança que obedece aos comandos do profissional facilita a execução dos procedimentos, liberando o profissional do estresse, a família da angústia e a criança do medo. Pelo contrário, uma criança que não obedece ao profissional, não fica quieta, dá socos e pontapés na equipe é foco de enorme estresse para o profissional e grande fator de evasão do tratamento. A essa situação em que a criança, por seu comportamento, dificulta ou até impede o atendimento, denomina-se resistência comportamental.
Moraes (1999) aponta três suposições básicas que orientam a pesquisa sobre o comportamento da criança no dentista:
1 – o tratamento odontológico é uma situação produtora de medo e ansiedade nas crianças;
2 – as crianças constituem um problema de manejo para o dentista;
3 – as crianças devem ser preparadas para tolerar o tratamento odontológico como um evento que ocorre repetidamente ao longo da vida;
A resistência não ocorre somente entre crianças, mas entre elas assume, atualmente, uma proporção quase epidêmica, razão pela qual se multiplicam as pesquisas sobre o comportamento da criança durante o atendimento odontológico.
Com o avanço da pesquisa, a antiga visão da resistência sendo baseada apenas nas categorias medo e ansiedade perdeu força, dando lugar a uma visão mais ampla da motivação subjacente à resistência comportamental. As pesquisas atuais consideram além da resistência medrosa, todo um conjunto de comportamentos resistentes que não são explicáveis pelo medo ou pela ansiedade.
À resistência motivada pelo medo, denomina-se resistência medrosa. À resistência motivada por outros fatores que não o medo ou a ansiedade, denomina-se resistência não medrosa.
Resistência não-medrosa
A resistência não-medrosa pode ser definida como a situação em que a criança, por seu comportamento, dificulta ou impede o atendimento odontológico e a motivação básica não é o medo ou a ansiedade. Vincula-se a comportamentos não-colaborativos, comportamentos verbais de recusa, comportamentos agressivos e comportamentos agitados.

Etiologia:
Incapacidade dos pais em exercer a função de controle dos impulsos da criança, motivada por condições psico-sociais dos pais, como nas seguintes situações:
1- culpa dos pais pelo divórcio, pelo trabalho ou por um novo casamento;
2- história de carência infantil dos próprios pais;
3- co-dependência dos pais em relação aos filhos;
4- supercompensação pela falta de tolerância e rigidez do outro genitor;
5- pais sofisticados, intelectuais e bem-sucedidos;

Identificação da resistência não-medrosa:
Foco no aspecto comunicacional. A comunicação é recusativa ou agressiva. Diferente da resistência medrosa em que a comunicação é suplicativa. Expressões como: “não”, “não quero”, “não vou”, gestos de bater ou armar o tapa, xingar, dar pontapés, socos, cuspir nos acompanhantes ou nos profissionais e choro seco são comuns. Seu tom de voz é diretivo e o de seus pais é aquiescente e suplicativo.

Manejo da resistência não medrosa:
Após o diagnóstico da RNM:
1 – Dialogar com os pais sobre serem afirmativos e diretivos em matéria de saúde;
2 – Esclarecer aos pais de que uma vez iniciados os procedimentos previstos para a sessão, todo o esforço será despendido de chegar à conclusão dos procedimentos;
3 – Não ceder, recuar ou negociar com a criança;
4 – A comunicação com a criança deve ser diretiva, delicada, mas sem excessos lúdicos;
5 – Em situações extremas, o paciente deverá ser encaminhado a um especialista em psicologia odontológica.

Bibliografia:
BOCK, Ana Maria Bahia (et alli). Psicologias. Uma Introdução ao Estudo de Psicologia. 13ª ed. São Paulo: Saraiva, 2000.
BORGES, E.M. A resistência comportamental não-medrosa: etiologia, profilaxia e manejo. Jornal Brasileiro de Odontopediatria , Curitiba, nov/dez.2002.
D’ANDRÉIA, Flávio Fortes. Desenvolvimento da Personalidade. 9ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989.
SEGER, Liliana (et alli). Psicologia & Odontologia. 4ª ed. São Paulo: Santos Editora, 2002.

















2º BLOCO


PSICOLOGIA APLICADA À ODONTOLOGIA - II
SÉTIMA AULA – Psicologia Aplicada à Disfunção da ATM

I – OBJETIVO: apoio psicológico a portadores de disfunção da ATM.

II – SINTOMAS: dor na região da ATM, dor na musculatura mastigatória, ruídos na ATM, abertura exagerada ou reduzida da boca, desvios laterais da mandíbula, dor de cabeça e dor de ouvido.
III – ETIOLOGIA: combinação de maloclusão e estresse.

IV - PREVALÊNCIA: maior entre as mulheres.

V – TEORIAS:
1 – Teoria do Deslocamento Mecânico (Decker, 1925):
Há uma base anatômica (falta de oclusão posterior) produzindo uma relação
côndilo-fossa alterada (deslocamento mandibular);

2 – Teoria Neuromuscular (Oberg, 1974; Bjom, 1974):
Há uma maloclusão alterando a função da ATM e do comportamento muscular
mastigatório ( teoria não confirmada pelos dados empíricos );

3 – Teoria Muscular (Kraus, 1963);
Há uma tensão constante dos músculos mastigatórios, agravada pelo estresse. A
maloclusão não é sequer citada;

4 – Teoria Psicofisiológica (Franks, 1964; Laskin, 1969)
Há uma combinação de distúrbio emocional (estresse) com irritação dental produzindo o bruxismo. O bruxismo leva a uma hiperatividade muscular, findando em fadiga muscular e mioespasmo. A partir dessa sensibilização muscular, o mioespasmo passa a ser provocado não só pela fadiga muscular, mas também pela excessiva contração (perda ou desgaste dos dentes posteriores) ou extensão (restaurações e próteses), levando à produção dos sintomas.
Vantagens da teoria psicofisiológica:

a. melhor poder explicativo dos sinais e sintomas;
b. explica as desarmonias oclusais em dentição funcional como efeito e não causa;
c. harmoniza as três entradas para o mioespasmo, sem excepcionalizar a teoria;
d. reconhece um tipo de personalidade estresso-somatizadora como grupo predisposto;


V – TRATAMENTO INTEGRADO:
O tratamento deve ser feito simultaneamente por uma equipe, evitando-se, sempre que possível, a seqüencialidade e o fracionamento entre os profissionais;


PSICOLOGIA APLICADA À ODONTOLOGIA - II
OITIVA AULA – Psicologia Aplicada à Disfunção da ATM


VI – PROBLEMA MENTE CORPO:
A tradição ocidental consagrou a divisão entre mente e corpo. O corpo é material, físico e tangível. A mente é imaterial, espiritual e intangível. Essa divisão, consagrada por Descartes no séc XVI coloca enorme dificuldade para se compreender e aceitar os eventos psicossomáticos. Como pode uma mente que é imaterial produzir efeitos em um corpo que é material? Equivale dizer: como poderia eu com a força de meu pensamento erguer copos, pratos e mesas? Contudo, a ciência e a filosofia modernas caminham firmemente no sentido de superar esse dualismo. Um sistema mente-corpo integrado é o modelo que tem adquirido maior poder explicativo dos fenômenos. Assim, todo evento mental tem também uma resposta equivalente no nível corporal e todo evento corporal é acompanhado por uma resposta mental.
Assim, na disfunção da ATM estão presentes tanto fatores emocionais quanto desarmonias oclusais e ambos devem ser reconhecidos em sua particular extensão e tratados adequadamente.
Como a emoção atinge os músculos?
Diante de um estressor os músculos de todo o organismo se tensionam em preparação para uma ação (reação de estresse – 1ª fase), em seguida, o organismo busca retornar ao estado de equilíbrio (homeostase – 2ª fase). Quando, contudo, o organismo não consegue retornar ao equilíbrio, a tensão não descarregada acaba por encurtar os músculos. Esse hipertensionamento muscular leva-o a perder sua elasticidade, exigindo enorme esforço quando requerido. Torna-se dolorido e sujeito a espasmos.
Em algumas pessoas, os músculos mais atingidos (órgãos de choque) são os da cabeça e pescoço. Uma vez doloridos, o indivíduo, na situações em que os músculos serão exigidos, produz um acirramento prévio da tensão, aumentando a dor na execução. O resultado é um círculo vicioso:
músculo dolorido > medo da dor > tensionamento do músculo > ocorrência da dor >
Quando se chega a esse ponto, o estresse inicial fica encoberto, embora sempre presente no primeiro encurtamento muscular;

VII – BRUXISMO
Definição: é o apertamento ou o ranger dos dentes, em vigília ou durante o sono.

Etiologia: três correntes teóricas principais.
1- interferências oclusais causam o bruxismo;
2- estresse e ansiedade causam o bruxismo;
3- aprendizagem: o bruxismo é aprendido e mantido por reforço contingente (automatismo prazeroso).
Clssificação:
1 – bruxismo por estresse: associado a sintomas musculares e emocionais;
2 – bruxismo sem estresse: associado à hereditariedade, sem sintomas emocionais.
Bruxismo e Sono: o bruxismo está mais concentrado no sono REM.

Masseter e estresse: há uma importante associação entre a atividade muscular intensa do masseter e o estresse.

Conclusão: o bruxismo consiste em uma resposta individual (condicionada pelo estresse e estados emocionais alterados) às desarmonias oclusais.
Papel do CD: esclarecer ao paciente as relações entre seu comportamento, estados emocionais, estresse e o bruxismo. Eventualmente encaminhar para terapia.


VIII – PERFIL DO PACIENTE COM DISFUNÇÃO DA ATM (facilita diagnóstico e prevenção)
· estudos indicam a maioria dos portadores com o perfil de mulheres hipertensas, idade entre 20 e 40 anos;
· Máscara de força. Lefer (1966) aponta pessoas com necessidades reprimidas de dependência (angústia insuportável) desenvolvendo uma máscara de força e rigidez (não há espaço para o relaxamento).
· Luta interna. Mac Call encontrou (através do MMPI) um delírio silencioso de luta interna contra uma catástrofe mental (despedaçamento).
· Ganho secundário. O paciente com disfunção da ATM (Lupton) parece desenvolver um ganho secundário com a doença (satisfação secreta em ser merecedor de atenção e cuidado por seu estoicismo).
· Resposta imediata. Morgan encontrou nos pacientes com disfunção da ATM uma relação importante entre resposta tensional (apertamento dental e contrações isométricas da musculatura mastigatória) e estados de frustração e ansiedade.
· Dependentes ou obsessivos. Moulton encontrou dois grupos portadores de disfunção da ATM: os abertamente dependentes que perderam a relação de dependência e os obsessivos e superexigentes.
· Hipertonicidade crônica. Pacientes não estressados praticamente não apresentam hipertonicidade crônica dos músculos faciais (29/30), enquanto que no grupo dos estressados há uma relação generalizada (1/1).

Conclusão sobre estudos do perfil:
· Os pacientes tem dinâmica emocional semelhante, mas não são iguais (há muita variação);
· Os estudos do perfil são pistas e não moldes estandardizados;
· A condição psicológica pode:
a) contribuir para a etiologia (é uma das causas),
b) agravá-la (condição clínica já atuante),
c) precipitar uma condição subclínica latente,
d) ser coincidente com a síndrome (não há causalidade),
e) ser resultado da condição (efeito).
· A relação entre disfunção da ATM e a condição psicológica está consagrada.
IX – CONSIDERAÇÕES SOBRE A DOR CRÔNICA NOS PACIENTES COM ATM

· Dor aguda: alarme biológico, de curta duração, associado a uma agressão ou patologia de causa reconhecida, cujo alívio é obtido com o tratamento conservador.
· Dor crônica: alarme biológico, de longa duração –acima de 6 meses, associado a complicações psicossomáticas de causas não compreendidas, cujo tratamento exige um enfoque multiprofissional.

· A dor crônica pode levar o doente ao abandono do trabalho e deterioração de suas relações sociais;
· A dor passa a ser não só o centro dos problemas, mas o “centro existencial” do paciente;
· Há um “ganho secundário” (inconsciente) que contribui para a manutenção da dor;
· Instruções iniciais após o diagnóstico da dor crônica:
a. medicamentos (prescritos ou não) devem ser reduzidos ou eliminados;
b. atividades diárias não dever ser modificadas em função da dor;
c. favores (café na cama, afagos, superatenção...) não devem ser concedidos em função da dor;
d. o paciente não deve fazer mais de um tratamento específico para dor (massagem, relaxamento, mioestimulador, psicoterapia, etc).


CARACTERÍSTICAS DA DOR CRÔNICA (McKINNEY ET AL.,1990)
1. A dor tem estado presente por meses ou anos, é muito similar à dor original, porém aumentou devido a tratamentos malsucedidos;
2. A dor é uma preocupação constante para o paciente e desempenha um papel central na sua relação com os outros, eventos sociais e trabalho;
3. A dor não é comprovada fisicamente;
4. O paciente tem inúmeras histórias de tratamentos malsucedidos e pode discutir as falhas clínicas anteriores com muitos detalhes;
5. O paciente deseja realizar qualquer tratamento com o objetivo de aliviar a dor e freqüentemente convence o CD a realizar tratamentos imprudentes;
6. O paciente faz uso excessivo de analgésicos, mesmo sabendo que não funcionam, isto é freqüentemente associado à depressão, aumento e diminuição de habilidade para a função;
7. Fatores psicológicos e sociais reforçam e perpetuam o comportamento da dor reletada.



X – TRATAMENTO:
Equipe multiprofissional (CD, fonoaudiólogo e psicoterapeuta – TCD)














PSICOLOGIA APLICADA À ODONTOLOGIA - II
NONA AULA – Psicologia Aplicada à Periodontia

I – OBJETIVO: Apoio ao tratamento das periodontopatias, em especial ao tratamento da Gengivite Ulcero-necrosante Aguda (GUNA) e motivação para Higiene Oral (HO).

II – HISTÓRICO DA GUNA:
1 – Infecção de Vincent – no início a GUNA era considerada doença venérea;
2 – “Boca de Trincheira” – acometia soldados nas trincheira (falta de higiene, deficiência alimentar e estresse);
3 – Relação entre estresse e GUNA estabelecida inicialmente por Muller e Firestone (1947), Roth (1951), Weiss (1951) e Jones (1951);
4 – Prioridade do fator emocional na ocorrência da GUNA. Há duas correntes opostas nesse ponto: prioridade do fator emocional e prioridade de fatores locais. O fator emocional sozinho não causa a GUNA;

III – ETIOLOGIA:

Má higiene oral + má nutrição + estresse ► GUNA


VII – MOTIVAÇÃO PARA A HIGIENE ORAL:

Objetivo da HO: remoção total da placa bacteriana em todas as faces dos dentes e compreende o uso de escova, fio dental e meios auxiliares.
Importância da HO: fundamental para o sucesso do tratamento periodontal.

Conhecimento e motivação: tão somente o conhecimento não é suficiente para mudar o padrão de higiene oral, são necessárias técnicas motivacionais.

VII – TIPOS DE PACIENTES QUANTO À HO:

1. HO deficiente por desinformação da técnica correta
o sabem da necessidade de escovar os dentes e usar o fio dental, mas praticam inadequadamente a técnica. Terapêutica: treinamento passo-a-passo em cada uma das técnicas (sob supervisão do periodontista).

2. HO correta, mas logo interrompida após o tratamento periodontal
Praticam a correta técnica de HO, mas por pressão do CD, dos custos, da dor e do temor de perder os dentes. Tão logo esses fatores são provisoriamente afastados (após o tratamento), retornam ao antigo padrão de HO (processo de fuga-esquiva), pois a recidiva não é imediata. (o tratamento deve incluir a mudança da percepção que o paciente faz da HO e da saúde bucal e geral e compreender a extensão da negligência).








DÉCIMA AULA : BASES EPISTEMOLÓGICAS DE JEAN PIAGET

TEORIAS MODERNAS QUE INFLUENCIARAM A EDUCAÇÃO
· BEHAVIORISMO:
Aprendizagem é mudança do comportamento observável;
Comportamento sob controle do estímulo.Não consegue explicar a não extinção de uma classe depois de aprendida (estrutura superior)
· PIAGET:
Aprendizagem é uma construção de estruturas cognitivas;
Estímulo sob controle da mente que seleciona e interpreta;
O condicionamento é explicado pela habilidade do organismo em atribuir significado aos objetos do ambiente.

· COMPORTAMENTO MORAL:
O behaviorismo considera que o comportamento moral é controlado pela consequência ambiental, de forma que o sujeito faz o que é correto por temor à punição ou por desejar a recompensa. Piaget considerou esta postulação insuficiente para explicar todo comportamento moral. Obviamente que as sanções controlam comportamentos impulsivos e imaturos, mas não explicam os comportamentos corajosos que enfrentam as punições e dispensam as recompensas. A luta pelo moralmente correto exige uma estrutura interna, mental, que controla o comportamento do ser humano.
Piaget reconhece a necessidade de sanções mas afirma que quanto mais se prolonga sua utilização, mais tempo prevalece a heteronomia moral da criança. Isto não autoriza dizer que se pode eliminar o período de heteronomia moral, razão de inúmeros fracassos educacionais.

· AVALIAÇÃO BEHAVIORISMO X PIAGET
As provas científicas e análises atuais indicam não uma eliminação do behaviorismo, mas sua incorporação por uma teoria mais abrangente que a teoria de PIAGET, uma vez que esta explica os fatos daquela sem recorrer à excepcionalização da teoria, o que não ocorre com o behaviorismo em relação aos problemas apresentados pela teoria de PIAGET

· O INTERACIONISMO DE PIAGET
Piaget procurou solucionar o problema do conhecimento de modo interacionista.
O PROBLEMA DO CONHECIMENTO:
Como conhecemos o que pensamos que conhecemos?
O que conhecemos é o que realmente existe?
Duas soluções clássicas:
EMPIRISMO: O conhecimento tem sua origem no objeto fora do sujeito e é interiorizado pelos sentidos.
RACIONALISMO: O conhecimento provém da razão pois só ela pode estabelecer relações. Ex matemática.
PIAGET: Melhor caminho para o problema epistemológico é o científico e não o especulativo. Daí seu interesse pelo desenvolvimento cognitivo da criança.

CONHECIMENTO FÍSICO: fonte nos objetos – apoio aos empiristas
CONHECIMENTO LÓGICO MATEMÁTICO: fonte na razão – apoio ao racionalismo.

CONCLUSÃO: Para Piaget, todo conhecimento precisa tanto da razão quanto do objeto, embora alguns exijam mais um aspecto que outro. Sem um esquema classificatório nenhum objeto pode ser “lido” da realidade (Ex. cadeira-classe cadeira) e sem objetos, a razão não teria como pensar o mundo, pois este é constituído de objetos. Enfim, o interacionismo de Piaget aponta no sentido de que todo conhecimento só é possível pela interação da mente conhecedora com o objeto de conhecimento.


· O CONSTRUTIVISMO DE PIAGET

Se a teoria de PIAGET fosse somente interacionista, ficaria numa posição muito próxima dos racionalistas que já afirmavam serem as noções de espaço, tempo, causalidade e número inatas. Piaget inova ao afirmar que essas noções são esquemas construídos pela criança ao longo de seu desenvolvimento e não inatos.

ESTRUTURAS DO CONHECIMENTO:
Lógico-aritmético: desenvolve-se em hierarquia, até eliminar a contradição.Ex.: a criança pequena acredita que há mais cães que animais e mais tarde retifica esse “erro” quando consegue operar reversivamente a parte e o todo.
Espaço-temporal a coordenação do espaço é desenvolvida hierárquicamente. Ex.: o desenho do ponto na folha.

Os esquemas lógico-aritmético e espaço-temporal são construídos na medida em que a criança consegue avançar da “abstração empírica” (uma qualidade do objeto) para a “abstração construtiva” (estabelece relações entre dois ou mais objetos ou qualidades= mesmo, diferente, dois etc).

CONCLUSÃO: O conhecimento nem vem de fora para dentro (empirismo) nem é inato (racionalismo), mas construído pela criança ao longo do desenvolvimento.


· CONSTRUTIVISMO E EDUCAÇÃO:

Como o conhecimento é construído pela criança ao longo de seu desenvolvimento, a escola não pode tratá-la como copo vazio a espera de ser preenchido pelo saber do professor. Pelo contrário, a criança deve ocupar o lugar que lhe é devido de ser construtora de seu próprio conhecimento. Os reformadores não científicos falharam porque não conseguiram convencer os educadores da validade de suas propostas, razão pela qual todo avanço deverá ser feito com base em estudos científicos.

AVALIAÇÃO PESSOAL: Aproveitar todo o potencial da criança será a tônica da pedagogia moderna. Contudo, ainda não está claro que esse potencial máximo pode ser alcançado sem um período razoável de heteronomia moral da criança.


DÉCIMA-PRIMEIRA AULA : PRINCIPAIS CONCEITOS DE PIAGET:
1. CONHECIMENTO FÍSICO: Conhecimento dos objetos observáveis externamente à mente do sujeito. A fonte do conhecimento físico é o próprio objeto. (não exclusivamente o objeto).
2. CONHECIMENTO SOCIAL (CONVENCIONAL): Conhecimento das convenções estabelecida pelas pessoas e por isso só pode ser aprendido através de outras pessoas (Ex. linguagem e modos sociais). Fonte principal s as pessoas.

3. CONHECIMENTO LÓGICO-MATEMÁTIVO: Conhecimento racional cuja fonte principal é a mente. Pode ser dividis o em 2 estruturas:
· Lógico-Aritmético: Sistemas classificatórios e relações.
· Espaço-Temporal: sistemas de coordenação de espaço e tempo.
Ex. Folhas e pontos/ Ex. Idades filiação/mãe/avó

4. SUJEITO EPISTÊMICO: Estudo dos processos de pensamentos presentes no ato de conhecer desde a infância até a idade adulta.

5. HEREDITARIEDADE: Refere-se à herança de um organismo dotado de um SNC cuja maturação prepara o Δ para a aprendizagem. (A aprendizagem ,contudo, só ocorrerá se houver estimulação adequada dos ambientes físico e social).

6. ADAPTAÇÃO: Processo de assimilação/acomodação efetuado pelo organismo com vista à obtenção do equilíbrio.

7. ASSIMILAÇÃO: É a utilização de estruturas cognitivas pré-existentes para conhecer eventos novos ou conhecidos.

8. ACOMODAÇÃO: É a mudança de estruturas cognitivas estabelecidas com vistas a conhecer objetos novos.
Obs.: No dia-a-dia, deparamos com eventos conhecidos e os assimilamos automaticamente. Contudo, alguns eventos (objetos0 são diferentes das classes existentes na estrutura cognitiva e então, teremos que criar uma nova para obrigar o objeto. Essa criação é acomodação.

9. ESQUEMA ; Unidade cognitiva básica repetível, fluída (combinações novas) e plástica (evolui com o desenvolvimento), que sustenta todo conhecimento: do mais simples ao + complexo. Não é o comportamento, mas a representação cognitiva do comportamento. É o modelo mental do objeto

10. EQUILÍBIO: Estado transitório em que as estruturas cognitivas não precisam de novas acomodações (mudança no organismo) para a integração de uma experiência em curso. Estado de complete assimilação da experiência.

11. EQUILIBRAÇÃO MAJORANTE: Processo pelo qual experiências não assimiláveis levam à perda do equilíbrio e a ativação de acomodações que tendem a um equilíbrio superior. Isto é um conhecimento que abrange melhor o real.

12. ERRO CONSTRUTIVO: É a situação em que a resposta errada do aluno revela uma estrutura cognitiva ao lado da qual a resposta dada é coerente e serve de propulsor para o progresso do aluno. (Ex. “Eu fazi”)

13. CONSTRUTIVISMO: o conhecedor deve 1º construir um esquema (modelo mental do objeto), para poder identificar o objeto. Sem um modelo mental, o objeto será assimilado a um modelo parecido, gerando distorções.

DÉCIMA-SEGUNDA AULA :ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO – PIAGET

Os estágios são sucessivos e cumulativos e se estabelecem em idade aproximada.

ESTÁGIO I – SENSÓRIO-MOTOR ( 0 a 2 anos)
a) Principais Características:
A cognição é sensório e motora, i. é, não há intervenção de uma cognição interna, racional. A criança conhece pelos sentidos e pela manipulação do objeto;
Como é sensorial, não opera com o objeto ausente e precisa, necessariamente, da presença do objeto. Depende do “aqui-agora”;
É prática, i.é, busca atender ao interesse imediato e não à compreensão;
Só consegue operar as ações sequencialmente;
Não simboliza, i. é, ainda não consegue fazer representações;
A experiência é privada, não compartilhada. A criança não “conta” sobre a coisa, mas “vive” a coisa.
b) Subestários (6):
Adaptações inatas (0-1 mês)
-exercício dos reflexos inatos ( automáticos, por estímulo específico)

Reação circular primária (2-4 meses)
-O efeito é ao acaso. Depois tenta repetir;
-Ação concentrada no corpo.

Reação circular secundária (4-8 meses)
-O efeito é ao acaso. Depois tenta repetir;
-Interação com o meio e não só com o corpo;
-Pré-intencional (indícios de intencionalidade).

Coordenação de esquemas (8-12 meses)
-Intencionalidade;
-Coordenação instrumental (levar bico à boca - sugar);
-Coordenação de objetos e fatos (por sapato – sair de casa);
-Imita gestos não visíveis em si (mão na orelha, língua para fora);
-Erro do subestágio 4: responde como aprendido e não conforme a situação; (Ex.: bola debaixo do sofá – tapete).

Reação circular terciária (12-18 meses)
-Buscar, através da experimentação acomodar a nova situação, por isso desaparece o “erro do subestágio 4”.

Novas combinações de esquemas através da representação (18 – 24 meses)
Momento de transição para a inteligência representativa, pois já há um princípio de representação que possibilita a acomodação do novo por combinações mentais e não mais pelo tateio físico.


PERÍODO PRÉ-OPERACIONAL (2 a 6 anos)

Enquanto a inteligência sensório-motora é prática ( opera com os sentidos e esquemas de ação, necessitando da presença dos objetos), a inteligência pré-operacional desenvolve a representação e, a partir daí, consegue realizar mentalmente, de forma simbólica, ações sobre a realidade, livrando a criança do “aqui-agora” próprio da inteligência sensório-motora.


DIFERENÇAS:

1. Sequencialidade/ simultaneidade (puxar o tapete para alcançar o objeto concretamente e comunicá-lo, antecipatoriamente).
2. A S.M. é prática e a P. O. busca a compreensão;
3. A SM. = objetos e situações presentes à percepção. P.O objetos e situações simbolizadas e podem estar ausentes;
4. A SM é experiência privada ( não compartilhada). A PO é compartilhada.


SUBESTÁGIOS:

1 – Pensamento Simbólico e Pré-conceitual (2 a 4 anos);
- Aparecimento da função simbólica (linguagem, jogo, imitação diferida, imagem mental...)
- Pensamento baseado em pré-conceitos e transdução.
2 –Pensamento Intuitivo (4 a 6 anos);
- Representações estáticas (próximas da percepção);
- Juízo Intuitivo ( não faz operações);


DETALHAMENTO:

SUBESTAGIO 1 – PRÉ –CONCEITO E TRANSDUÇÃO

- Pré-Conceito: entre o particular e o genérico (Ex. um caracol é percebido como sendo o mesmo visto antes). A criança não consegue articular os conceito;


- Transdução: do particular para o particular por analogia de um aspecto saliente (Ex. a criançpa que assimila a corcunda a uma gripe e não ambas a doença).

SUBESTÁGIO 2 – PENSAMENTO INTUITIVO

- Se fixa em dados perceptivos e percebe as mudanças de forma estática ( na construção do esquema de quantidades contínuas, erra porque é atraído pelos “equívocos da percepção” e diz que a água do copo ao passar para o outro mais alto e estreito aumentou. Não consegue fazer compensações e reversões (mentalmente).

CARACTERÍSTICAS DO PENSAMENTO PO

- ausência de equilíbrio: os mecanismos de acomodação não são suficientes para as assimilações necessárias, gerando sucessivos desequilíbios ( a inteligência falha porque está presa à percepção).

- experiência mental das ações: replicação mental das ações passo-a-passo


- centração: pensar em apenas 1 ou poucos aspectos da situação

- irreversibilidade: não consegue fazer a cognição inversa das ocorridas


- estatismo: cognição centrada nos estados e não nos movimentos do objeto.

- egocentrismos: tendência a tomar o próprio ponto-de-vista como único possível

características: 1 – confusão entre o próprio pensamento e o do outro;
2 – tendência a centrar-se no próprio ponto de vista.

- pensamento causal no estágio PO (pensamento mágico):


- fenomenisno = estabelece causa entre fenômenos próximos. Ex.: dormir causa o anoitecer;
- Finalismo= cada coisa age por uma função. Ex.: a nuvem se move para ir chover em outro lugar;
- Animismo= perceber como vivente um ente material . Ex.: relógio.
- Artificialismo= todas as coisas foram feitas pelo homem. Ex.: perguntar quem fez o lago ou o rio.



OPERAÇÕES CONCRETAS: ( 6 A 12 anos)

- Consolida a inteligência representativa ( simbólica );
- PO – intuitivo e instável porque submetivo à percepção, embora já tenha ação interiorizada, (as relações são estabelecidas perceptualmente e por isso, não compõem sistema);
- OC – Racional e estável (faz operações e reversões). A ação é interiorizada, porém já compõem um sistema extraperceptivo. (Ex.: se A > B e B > C, concluirá que A > C independentemente do ateste perceptual.

TIPOS DE OPERAÇÕES COGNITIVAS:

- LÓGICO-MATEMÁTICAS:
Ø Classificação : agrupar elementos que tem relação;
Ø Seriação: ordenar objetos segundo algum aspecto;
Ø Numeração: percepção das conservação do número, mudando configurações

- INFRALÓGICAS:
Ø Adição positiva: após juntas 2 elementos, um que dissolve no outro, perceper se houve; aumento do líquido ou do peso em relação a antes da mistura;
Ø Ordem espacial: após girar uma seqüência, saber a ordem resultante, antes da percepção.
Ø Mediação: construir segundo modelo, só que em outro plano.


DESCENTRAÇÃO: supera o egocentrismo pq consegue perceber o objeto por outros pontos-de-vista. ( supera a fixidez perceptual);

REVERSIVILIDADE: - por inversão: faz a operação contrária e volta ao princípio;
- por compensação: compara que o mais alto e mais estreito compensa o mais baixo e largo.

CONSERVAÇÃO: - um todo se conserva, apesar de certas alterações.
Ex.:as quantidades contínuas

CARÊNCIA DO PENSAMENTO CONCRETO:

As operações concretas, apesar da simbolização, ainda estão “ presas à realidade do objeto”, isto é, o objeto visado pelo conhecimento, embora possa ser simbolizado, mantém um equivalente estrutural, impedindo a verdadeira abstração. É por isso que ocorrem as defasagem horizontais: certos objetos oferecem maior resistência à assimilação que outros. (Ex.: conservação de quantidades 7/8 anos; de peso 9/10 anos; volume 11/12 anos).


LIMITAÇÕES DA CONCEPÇÃO OPERATÓRIA:

As aquisições cognitivas ocorrem em uma seqüência que é universal, porém a idade varia conforme a criança e a cultura. Piaget afirma que o ambiente oferece um certo grau de “atrito variável” ao desenvolvimento cognitivo, daí as velocidades de estruturação variadas gerando as defasagens horizontais.

CONTEXTO, CONTEÚDO E COMPLEXIDADE COGNITIVA

O objeto tem sua complexidade e suas idiossincrasias;
. Há situações em que a competência operacional é a mesma, mas a eficiência da ação varia conforme varia a tarefa mesmo tendo equivalência operacional, levando a fracasso e sucesso operacional em operação equivalente.

PERÍODO OPERACIONAL FORMAL (12 anos em diante)

I – CARACTERÍSTICAS LÓGICAS DO OF:

A) A realidade concebida como sub-conjunto do possível:
- OC avalia o problema dentro dos dados empíricos/concretos;
- OF avalia o problema a partir do possível racionalmente concebido;
- OF o racional condiciona a percepção do empírico ( supera os dados da poercepçãoi)
- OF associa todas as possibilidades envolvidas no problema, produzindo um sistema avaliatório de combinações supra-empírico;
Ex.: o carro apagado pode estar assim por várias causas ou combinações de causas e não por uma relação linear concreta;
Ex.: uma guerra e seus múltiplos fatorres.

B) O caráter hipotético-dedutivo:
- O pensamento abstrato que já existia no OC, assume um caráter de hipótese e é desenvolvido o “esquema de controle de variáveis” que consiste em variar um fator, manter os demais e observar o resultado. Ex.: seja a hipótese: “o câncer de pulmão é causado pelo fumo: variar as demais condições, manter o fumo e medir o resultado.
C) O caráter proposicional:
- Uso da linguagem para expressar proposições que são afirmações sobre o possível e não sobre o empírico. Todas as conclusões das verificações empíricas são traduzidas em uma linguagem proposicional.

II – DIFICULDADES DE AQUISIÇÃO DO OF
· O OF é um pensamento universal (deve desenvolver em todos os adolescentes entre 11 e 14 anos)
· OF é simultâneo e homogêneo, i.. é, uma vez alcançado, toda a estrutura se modifica.
· É determinado pela estrutura das relação lógica e não pelos conteúdos das tarefas.
· É a mesma estrutura cognitiva do adulto.

III – CORREÇÃO DO PENSAMENTO FORMAL DE PIAGET.

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