sábado, 7 de março de 2009

RESUMO DE PSICANÁLISE -1º -PER-ADM

TEXTO SOBRE PSICANÁLISE
PROF. EDSON MOREIRA
1º PERÍODO- ADM



AULA - Psicanálise: definição, conceitos principais e método de pesquisa

INTRODUÇÃO:
- iniciada por Sigmund Freud no final do séc XIX, Viena, Áustria
- Freud inovou com seu método inteiramente psicológico no tratamento das neuroses (histeria, neurose obsessivo compulsiva, depressão). Até então, as neuroses eram consideradas ora alterações biológicas, ora perturbações de caráter espiritual (possessões).
- Freud propôs que a neurose era fruto de um conflito inconsciente.
- O conflito é fruto de duas tendências psicológicas incompatíveis, sendo, por isso, reprimida.

1 – DEFINIÇÃO TRIDIMENSIONAL
A psicanálise consiste em um campo do conhecimento da mente humana cujo objeto é o inconsciente, entendido como processo psíquico não observável, não consciente, mas inferido a partir de manifestações comportamentais, sobretudo da produção de sinais interpretáveis. Contudo, a definição não é unívoca, mas tríplice, conforme a dimensão visada:

a. Método Psicoterápico:
- solução dos conflitos inconscientes (formador da neurose) entre forças repressoras e forças reprimidas. Ex.: ódio e amor pelo pai (geralmente deslocado para figuras de autoridade, ou sentimento de impotência).
- atualização do conflito na relação com o analista (transferência). Ex.: o ódio será revivido e elaborado com o analista.


b. Método de investigação do inconsciente:
- tradução do inconsciente para a consciência (interpretação);
- eventos conscientes (sonhos, associação livre, lapsos, trocas, chistes) são pistas que levam ao inconsciente.
c. Teoria Psicológica:
- concepção teórica do funcionamento psicológico;
- a mente e o comportamento humano são controlado por motivações de natureza sexual que são inicialmente reprimidas (sexualidade infantil);
- ressurgem, na puberdade, na descarga sexual direta, nas atividades sublimadas ou na angústia neurótica.

2 – METAPSICOLOGIA: psicologia das características tópicas, dinâmicas e econômicas dos processos mentais.

a. Ponto-de-vista tópico:
- refere-se às instâncias do aparelho psíquico;
1) primeira tópica: consciente, pré-consciente e inconsciente:
- consciência: é o todo mental imediato; é o sistema que capta as informações do mundo externo e interno.
- pré-consciência: são conteúdos não presentes na consciência, mas evocáveis pelo esforço da vontade e atenção.
- Inconsciente: são conteúdos não presentes na consciência que não podem ser acessados pelo exercício do esforço da recordação e atenção.
2) Segunda tópica: id, ego e superego (necessidade da instância repressora – ego):
- id: é a fonte de toda a energia psíquica e pulsões; regido pelo princípio do prazer (busca descarga imediata do impulso).
- ego: instância do controle/regulagem da personalidade através de mecanismos de defesa. Busca compatibilizar os desejos do id com as exigências da realidade externa e as restrições do superego (usa os mecanismos de defesa nesse processo). Sede das funções da percepção, memória, sentimento e pensamento. É regido pelo princípio da realidade.
Triângulo do ego:



ID S.EGO
EGO


REALIDADE EXTERNA

- superego: sede da moral e dos modelos. Origina-se do complexo de Édipo, internalizando as proibições e modelos paternos. É o superego que produz a culpa em situações que representam o ódio e o temor ao pai.

b. Ponto-de-vista econômico:
- processos psíquicos são impulsionados por uma energia de caráter sexual (libido);
- a libido é finita: quando abunda em um processo, falta em outro;
- originada no soma, essa energia é um modelo metafórico e não explicativo (como pode algo físico se transformar em mental, se esse, por definição é imaterial?).


c. Ponto-de-vista dinâmico:
- o aparelho psíquico é palco de forças antagônicas em conflito permanente;

- desejos sexuais podem ser confrontados por pulsões morais ou pulsões de sobrevivência, entre outros;


- a consequência do conflito é a repressão. Se o ego dispõe de energia suficiente, pode controlar o processo de repressão (defesa) sem ser ameaçado pelo retorno do recalcado;

- se o ego não dispõe de energia suficiente, será ameaçado pelo retorno do recalcado (fracasso das defesas e mobilização de mais energia), entrando em estado de angústia, gerando a desadaptação sexual e social, fonte da neurose.


3 – MÉTODO DE PESQUISA
a. A psicanálise baseia seus achados principalmente em estudos clínicos (estudos de caso). Dispõe de um vasto sistema teórico que indica como e o que deve ser buscado em seus estudos clínicos. A natureza de seus construtos teóricos não permite uma verificação por pesquisa experimental (como seria possível testar a teoria dos sonhos experimentalmente?). Contudo, certos conceitos teóricos são apoiados por estudos de observações naturalísticas de crianças.

4 – FILOGÊNESE DO MECANISMO DA REPRESSÃO
A tendência a expulsar da consciência as representação extremamente desfavorável revela uma tendência filogenética.
Em todo o reino animal, especialmente entre os mamíferos, o organismo busca se afastar dos estímulos dolorosos e se aproximar daqueles que produzem prazer e satisfação. O afastamento dos estímulos dolorosos ou desagradáveis pode ser alcançado ou pelo enfrentamento ou pela fuga.
No ser humano, com o surgimento das atividades mentais superiores, como o pensamento, o homem desenvolveu também a dor psíquica e passou a antecipar pensamentos desagradáveis que iriam ocorrer e sofrer antecipadamente por esse motivo. Para escapar ao sofrimento psíquico, desenvolveu como defesa o esquecimento dos pensamentos que provocariam dor moral.
Esse processo, tornando-se sistemático, passou a constituir o mecanismo da repressão. Com a repressão, o homem aprendeu a expulsar da consciência para o inconsciente todos aqueles impulsos provenientes do ID que não eram suportados pelo SUPEREGO e, por isso, causadores de ansiedade.





5 – MECANISMOS DE DEFESA DO EGO:
Mecanismos inconscientes que o ego utiliza para evitar a consciência dos impulsos ansiogênicos. Emprego moderado é adaptativo, exagerado é patológico. Todo mecanismo de defesa é um fracasso parcial da repressão. Funciona completando uma repressão incompleta ou frágil.

Compensação: busca uma realização social extrema para compensar o sentimento de inferioridade advindo de uma qualidade negativa. Ex.: o homem que sente muito uma deficiência física e tenta compensá-la sendo um excelente intelectual, ou um militar poderoso.
Deslocamento: desloca o sentimento do objeto original para outro mais compatível com a consciência moral. Ex.: o medo do pai castrador pode se deslocar para o medo de cavalos ou gatos, ou medo do escuro etc. (fobias)

Fantasia consciente ou devaneio: enredos imaginários que visam à satisfação de desejos impossíveis de serem satisfeitos imediatamente na realidade. Ex.: o aluno que se sente muito cobrado por um professor exigente, pode fantasiar um dia ser também um professor, contudo indulgente com um aluno nas mesmas condições que ele.

Formação reativa: o ego apresenta sentimentos e comportamentos opostos aos desejados inconscientemente. Ex.: o ódio de uma jovem pelo marido da irmã pode esconder uma paixão pelo cunhado. Ex.: atitude de muita gentileza e cuidado pode esconder uma hostilidade latente. Ex.: a pessoa obsessivamente controlada e ordeira pode ter inconscientemente um intenso desejo de realizar impulsos sujos e descontrolados. Ex.: o homem que não suporta suas pulsões agressivas e se torna membro de uma ONG pacifista.


Introjeção: incorporar, inconscientemente, à personalidade qualidades desejadas de outras pessoas. Ex.: o jovem que passa a utilizar o mesmo jargão de um amigo admirado ou o filho que se identifica com as atitudes masculinas do pai e passa a repeti-las.

Projeção: é o mecanismo pelo qual atributos pessoais inaceitáveis são projetados na outra pessoa. Ex.: o empregado que tem forte sentimento hostil ao patrão, mas sente ser o patrão que o odeia e persegue. Ex.: a jovem que, sentindo-se pouco atraente, caçoa de uma amiga que passa com os cabelos despenteados.

Negação: é o bloqueio de certas percepções do mundo externo sentidas como causadoras de sofrimento. Ex.: uma mãe muito devotada ao filho único que, após seu casamento, cotinua a manter o quarto do filho perfeitamente em ordem como se ainda morasse na casa. Ex.: a jovem, cujo namorado não lhe dá a atenção devida e nem retribui a suas declarações amorosas, mas continua a acreditar que há amor por trás de seu comportamento rude. Simplesmente, ele “não sabe expressar”.
Racionalização: justificação racional de comportamentos cuja motivação é basicamente impulsiva (geralmente agressões verbais ou físicas), para torna-lo mais aceitável à consciência. Ex.: o marido que espanca a mulher e depois justifica dizendo que a mulher o provoca falando demais (o desejo de bater na mulher já existia antes). Ex.: aquele que provoca, mas depois se diz perseguido.

Repressão ou recalque: é o mecanismo de defesa básico, parcialmente em ação em todas as outras defesas. Consiste em expulsar da consciência as representações incompatíveis com o ego e por isso geradoras de grande ansiedade. Ex.: a jovem que reprimiu o sentimento de hostilidade/rivalidade pela mãe ou o garoto que não consegue se lembrar que tinha medo do pai severo. Ex.: a mulher que odeia o marido, mas não percebe diretamente.

Sublimação: não é bem um mecanismo de defesa, mas um mecanismo de transformação do impulso sexual original, dirigindo-o para realização em atividades socialmente aceitas. Assim, o ego não precisa dele se defender, pois sua natureza foi transformada, diferentemente da repressão, em que o impulso sexual conserva sua natureza intacta. Ex.: o desejo infantil de brincar com fezes é transformado no desejo de esculpir. Ex.: o desejo de escopofilia (expiar partes do corpo do sexo oposto) é modificado para o desejo de ser cirurgião. Ex.: o desejo anal-sádico é modificado para o desejo de ser dentista. Ex.: as pulsões orais são transformadas no desejo de ser professor, cantor ou político etc



6 – DESENVOLVIMENTO PSICO-SEXUAL: (modo de satisfação da libido ao longo do crescimento).
A libido, cuja natureza sexual evolui para a descarga genital no adulto, em cada etapa do desenvolvimento psico-sexual se concentra em uma forma de satisfação. Cada uma dessas etapas constitui uma fase do desenvolvimento e contribui em maior ou menor grau para o resultado final do desenvolvimento e personalidade do indivíduo.

Fase Oral: (primeiro ano de vida)
a. Concentração na cavidade bucal e seus componentes
do interesse erótico.
b. É através da boca que o bebê “conhece” o mundo, experimenta o prazer e sofre o desprazer da frustração. Toda situação geradora de ansiedade é descarregada por meio de um exercício oral.
c. Excesso de privação ou gratificação podem levar à fixação neste estágio.
d. A fixação se caracteriza por uma recusa ou dificuldade da criança em avançar nos comportamentos de autonomia, aceitação da separação, avanço alimentar e abandono dos hábitos orais.
e. A fixação, mesmo superada, é o ponto para o qual a criança regride em situações ansiogênicas na vida adulta.
f. Fixação pelo excesso de gratificação: a pessoa cria uma expectativa de sempre ter suas necessidades e desejos satisfeitos pelo outro, independente da vontade desse outro. (uma boca sempre querendo uma teta).
g. Fixação pelo excesso de frustração: a pessoa cria a expectativa de que o mundo é basicamente frustrador e que nada pode evitar essa frustração final.
h. No ambiente organizacional, uma pessoa com caráter oral buscará sempre alguém que tome as decisões para si. Sua necessidade e busca de ajuda constante poderá levá-lo à dependência e frustração com seu ambiente de trabalho.

Fase Anal: (segundo e terceiro anos de vida)
*fezes são presente simbólico aos pais e são sentidas como parte do corpo.
a) Concentração do prazer na expulsão/retenção das fezes e urina.
b) Introdução em um mundo que exige renúncia ao prazer para conservar o amor.
c) A criança fixada pelo excesso de gratificação, se torna excessivamente teimosa, impulsiva, maldosa e sem limites, podendo ocorrer, por formação reativa, um comportamento de ordem, limpeza, parcimônia, ou seja, o contrário de tudo aquilo que verdadeiramente deseja. A fixação pelo excesso de frustração pode tornar a pessoa cruel ou até mesmo sádica (caráter obsessivo-compulsivo).
d) Nas organizações, o caráter obsessivo-compulsivo é manifesto na pessoa maldosa, atenta aos defeitos dos outros, intrigante. Ou, por formação reativa, se torna excessivamente ordeira e não suporta nenhuma desordem ou surpresa.

Fase Fálica: (quarto e quinto anos devida)
Concentração do interesse erótico no pênis/ausência de pênis.
Fase do complexo edipiano (amor e rivalidade/hostilidade aos pais).
Angústia de castração no menino (medo de ser castrado pelo pai). Podendo resultar em um complexo de castração (reação de total submissão ou total rebeldia).
Angústia de castração na menina (desapontamento de ter sido castrada). Podendo resultar em inveja do pênis (recusa a aceitar qualquer tipo de diferença entre homens e mulheres=desejo de igualdade) ou sentimento de total falta de valor.
Solução do Édipo: o garoto deve renunciar à luta contra o pai pela posse da mãe. Através da identificação com o pai, o garoto se sagra vitorioso, internalizando as normas da cultura e os modelos sociais. Na menina, o primeiro objeto é homossexual (a mãe), deslocando para o pai pela decepção fálica (carência do pênis) cuja culpa é atribuída à mãe. A partir dessa carência básica, a menina fantasia recuperar o pênis apossando-se de seu detentor, o pai, tornando-se a mãe a rival. A superação da rivalidade/hostilidade com a mãe se dá pela identificação com a mãe, numa revalorização integral do corpo e funções da mãe.
A vivência prolongada do conflito edipiano leva à fixação nas características competitivas e fobia às situações em que possa revelar fraqueza. O conflito que é reprimido muito cedo e com excesso de autoritarismo do pai, pode tornar o homem um caráter medroso, inseguro e tímido (castrado).
O complexo de inveja do pênis pode ser percebido na mulher que em tudo deseja competir com o homem (não aceita as diferenças homem-mulher) ou na mulher extremamente tímida e insegura.
A angústia de castração induz o garoto a abandonar o desejo edípico. Na menina, a angústia de castração induz sua entrada no desejo edípico.
Nas organizações, o caráter fálico se caracteriza por um comportamento insistentemente competitivo, recusa à disciplina ou abandono de qualquer disputa (retraimento).


Latência: (de 6 a 11 anos)
Amnésia infantil (esquecimento de todo interesse sexual infantil, incluindo a angústia de castração e a inveja do pênis).
Desvio do interesse para atividades sociais, intelectuais e dessexualizadas.
Busca constante do elogio dos adultos e rejeição aos temas sexuais.
A fixação na latência, nas organizações, é revelada por uma conduta vergonhosa, excessivamente voltada para aprender e desempenhar tarefas e evitar assuntos da intimidade.


Fase Genital: (acima de 12 anos)
- superação e integração das etapas anteriores, possibilitando a afirmação da personalidade e preparo para uma vida sexual realizadora. O desejo se desliga do próprio corpo e se concentra em um objeto externo: o outro.
- nas organizações, o caráter genital caracteriza-se por uma atitude interessada, colaborativa, empenhada e assertiva.



7 – EVOLUÇÃO DO DESENVOLVIMENTO:

Progressão. Em cada fase do desenvolvimento, o ser humano tem que superar desafios específicos ligados à forma de satisfação libidinal. O sucesso na superação de cada obstáculo proverá o indivíduo de maior confiança, independência e integração. Quando isso ocorre, falamos que há uma progressão no desenvolvimento.

Fixação. Fatores constitucionais (temperamento) ou ambientais podem impedir/dificultar que o indivíduo ultrapasse adequadamente certa fase, detendo aí seu desenvolvimento, trata-se da fixação. Ocorre por duas causas principais:
1- excessiva gratificação das necessidades da fase;
2- excessiva frustração das necessidades da fase.

Regressão. Certos indivíduos, mesmo tendo ultrapassado todas as etapas do desenvolvimento, ao depararem com uma situação de pressão, ou de semântica específica, entram em estado de ansiedade e acabam por regredir para uma fase na qual houve um grau maior de fixação. Assim, fixação e regressão interagem dinamicamente. Há uma forma de regressão que, por ser plástica e estar sob o controle da realidade, pode muito bem ser chamada de regressão funcional. Ex.: adoentado/acamado que regride à fase oral para receber cuidados. Ex.: a pessoa que regride à retenção anal e, assim, se motiva para eonomizar dinheiro e fazer patrimônio. Ex.: no esporte, o competidor regride à fase fálica para superar o outro. Ex.: deixar toda uma rotina de prazeres e orgias e deslocar todo o interesse para estudar-latência (sentimento de estar fazendo a coisa certa, longe da entrega aos impulsos).

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